Este estudo analisa o fenômeno da adesão de jovens na Inglaterra ao grupo autointitulado Estado Islâmico (EI), focalizando as trajetórias de quatro deles. Sua proposta não é simplesmente examinar os modos como seguidores se relacionam com o grupo e os fatores que contribuem para que isto ocorra, mas compreender de que formas eles interagem com um conjunto de elementos da contemporaneidade – multiculturalismo e políticas públicas para a administração da diversidade cultural, globalização, midiatização − e explorar o processo por meio de uma perspectiva cultural, com ênfase em uma abordagem interdisciplinar. A tese aqui defendida é de que se trata de um fenômeno multicausal de caráter marcadamente cultural, associado à formação da identidade desses indivíduos em um momento de crise, nas sociedades europeias contemporâneas, em que a identidade muçulmana passou a ocupar um lugar central, notadamente após o 11 de Setembro e a subsequente invasão do Iraque, em 2003. Esta tese envolve a ideia de que a constituição das identidades investigadas não é fundamentalmente informada ou influenciada por uma radicalização de cunho religiosoteológico, sendo melhor compreendida com base na concepção de que, no processo, uma dimensão simbolicamente associada ao Islã é incorporada a um contexto já contencioso. A adesão à narrativa do EI e sua própria existência são exploradas pelo prisma de sua função como aglutinador de dinâmicas, insatisfações e problemáticas já em curso, que a vinculação de jovens ocidentais ao grupo explicita e tensiona. O grupo é tratado como um fenômeno de comunicação cuja existência e influência são inseparáveis das circunstâncias tecnológicas e comunicacionais características da contemporaneidade. A metodologia de histórias de vida, mesmo tendo em conta as limitações relativas ao seu emprego em um trabalho dessa natureza, propiciou a inscrição, na pesquisa, da dimensão subjetiva dos indivíduos enfocados, oportunizando a observação de aspectos emocionais e afetivos, reiteradamente negligenciados nas análises sobre o tema. Através dessa abordagem, foi possível apreender não só os percursos dos sujeitos, mas os vetores, redes e circunstâncias com os quais se articulavam, perceber como se adequavam às situações e quais os fatores envolvidos nessa dinâmica.
This study analyzes the phenomenon of young individuals in England joining the group Islamic State (IS), focusing on the trajectories of four of them. Its proposal is not simply to examine the ways in which followers relate to the group and the factors that contribute to this, but to understand how they interact with a set of elements of contemporaneity multiculturalism and public policies for the management of cultural diversity, globalization, mediatization – and explore the process through a cultural perspective, with an emphasis on an interdisciplinary approach. The thesis put forward here is that it is a multicausal phenomenon with a markedly cultural character, associated with the formation of the identity of these individuals at a time of crisis in contemporary European societies, in which the Muslim identity came to occupy a central place, notably after the September 11 and the subsequent invasion of Iraq in 2003. This thesis involves the idea that the constitution of the identities investigated is not fundamentally informed or influenced by a radicalization of a religious-theological nature, but is better understood based on the conception of that, in the process, a dimension symbolically associated with Islam is incorporated into an already contentious context. The adherence to the IS narrative and its very existence are explored through the prism of its function as an agglutinator of dynamics, dissatisfactions and problems already underway, which the connection of Western young people to the group makes explicit and strains. The group is treated as a communication phenomenon, the existence and influence of which are inseparable from the technological and communicational circumstances characteristic of contemporary times. The methodology of life history, even taking into account the limitations related to its employment in a work of this nature, provided the inscription, in the research, of the subjective dimension of the individuals focused, allowing the observation of emotional and affective aspects generally neglected in the analyses of the subject. Through this approach, it was possible to apprehend not only the personal trajectories but also the vectors, networks and circumstances that they articulated with, to perceive how they adapted to the situations and which factors were involved in this dynamic.