Por Cláudio Manoel Duarte de Souza (claudiomanoelufrb@gmail.com)

O KRAFTWERK CONFERENCE, evento online que acontece no próximo sábado (15 de maio) a partir das 14h, é uma iniciativa do Digitalia, para refletir e celebrar os 40 anos do disco Computer World da banda alemã Kraftwerk, lançado em maio de 1981. A Rede Digitalia de Estudos Interdisciplinares na Internet e da Cultura Digital, sediada no IHAC|UFBA, reune no “Kraftwerk Conference” DJs, pesquisadores, jornalistas, produtores e diversos artistas para avaliar a importância do disco “Computer World”.

O professor doutor Messias Bandeira, coordenador da Rede Digitalia, faz um relato de como se deu seu contato com música eletrônica da banda Kraftwerk: “Era 1981 e eu já não sabia o que era a música. Ou descobri ali: uma des-matéria viva. Em 10 de maio daquele ano — há exatos 40 anos, portanto — o grupo alemão Kraftwerk lançava o disco “Computer World”, um marco da cultura contemporânea. O Kraftwerk introduziu um redimensionamento da experiência musical ao confrontar a música e seus dispositivos técnicos, levando ao limite tanto a arquitetura da produção quanto da fruição da música”.

Para Bandeira, o século XXI chegava duas décadas antes pelas batidas e mensagens de Computer World. “O espraiamento da influência do álbum, no entanto, não está circunscrito ao segmento musical (de maneira recursiva, rock, hip hop, rap, dance music, música eletrônica e sua árvore de intragêneros sempre são citados como reverberações do “ComputerWelt”, em alemão); do Public Enemy ao Radiohead, com seu Kid A”, explica Messias.

Para o coordenador do Digitalia, a visão antecipadora do disco se reflete também na estética tecnológica e nas narrativas da cultura digital, repercutindo inclusive nos debates sobre a relação indivíduo-computador. “Como a obra “2001, Uma Odisseia no Espaço”, tudo ali nos remete à insígnia do desencaixe de “ser”, ou poderíamos simplesmente tratar “das dificuldades do não-humano (e como podemos ajudá-lo)”. A sensação é esta: este disco só pode ter vindo do futuro, quando parece que tudo foi despersonalizado ou, como seria mais adequado, humanamente construído por suas máquinas e seus doppelgängers. Quem sabe o The Man-Machine”, complementa.

PROGRAMAÇÃO

Sábado, 15/05 – 14h às 22h

O evento pode ser acompanhado gratuitamente pelo site: www.digitalia.com.br ou pelo www.instagram.com/digitaliabr

Para os inscritos, serão concedidas certificações de participação.

DJ SETS/Lives:

– Sessão 1 – 14h às 17h

DJs: Rodrigo Lobbão (Fortaleza), Jerônimo Sodré (Salvador), Arlequim (Brasília), Chico Correa (João Pessoa), João Ricardo (São Luís)

– Sessão 2 – 18h30 às 20h

DJs: Telefunksoul (Salvador), Benjamin Ferreira (Belém/São Paulo)

DEBATES:
– Mesa 1 – 17h – Cláudia Assef, André T., Cláudio Manoel Duarte 

– Mesa 2 – 20h – DJ Marky, Camilo Rocha, DJ Adriana Prates e Messias Bandeira

DISCO COMENTADO:

Disco Computer World, comentado – 21h – Por Messias Bandeira

AMO KRAFTWERK (mini vídeos-depoimentos):

Bacana Music (Maceió), Halley Seidel (Rio de Janeiro), Telefunksoul (Salvador), Rodrigo Lobbão (Fortaleza), Arlequim (Brasília), Dany Andrade (João Pessoa), Jerônimo Sodré (Salvador)

No press-release da gravadora Electric and Musical Industries Ltd-EMI, a empresa escrevia que “o conceito do LP é que este “é” o Computer World (Mundo dos Computadores). Todas as facetas de nossa sociedade agora são influenciadas pela tecnologia dos computadores, e nossa linguagem se tornou a linguagem do software de computadores.” Vamos lembrar que o ano é 1981, e a internet só seria aberta comercialmente 4 anos depois (nos EUA) e em 1995, no Brasil.

O disco Computer World (1981), do Kraftwerk, já apontava sobre o impacto das tecnologias computacionais na vida. Onde essa máquina – o computador – iria costurar uma nova camada mundial, passando a ser um dos regentes da vida cultural e econômica da sociedade, inaugurando assim um Mundo dos Computadores. “Business, numbers/ Money, people/Business, numbers/ Money, people/Computer world” – letra trazida na faixa título do disco, identifica que essa máquina é local de negócios bem como de “Crime, Travel, Communication, Entertainment”: ou o mundo mesmo, como já era, dentro da máquina. O computador também seria um um instrumento musical, já que “Pressionando uma tecla especial/Toca uma pequena melodia”. O Kraftwerk entende o computador como, também, ferramenta de produção sensível, um instrumento de geração de arte.

Mas é na música Home Computer que a banda traz uma perspectiva sobre a importância de dominarmos a programação como ferramenta poderosa individual, reforçado em 2012 por Rushkoff “Programe ou será programado”. O Kraftwerk canta “Eu programo meu computador de casa, Transmitindo-me para o futuro”. Além das letras com frases curtas e proféticas, o disco traz músicas de sons essencialmente sintéticos, pensados para o mundo da dance music. Aí vemos a associando a experimentação estética com elementos pops da música. Uma direção contrária às experiências anteriores dos sons orgânicos processados via máquinas pelos pesquisadores da Eletroacústica, como Karlheinz Stockhausen, lá na década de 1950, na universidade de Colônia (Alemanha). Kraftwerk rompe com o discurso acadêmico e laboratorial na música experimental que vinha da Música Concreta e da Eletroacústica e aponta para as pistas de dança. Esse é o legado que vai influenciar toda uma geração da cultura da dance music e da música experimental e ponto de promover bases para novos gêneros musicais como a música Numbers, que trouxe o conceito do electro e fincou as bases do gênero.

As contribuições do Kraftwerk são enormes para a música contemporânea, a música eletrônica e a cultura do DJ. É tema para muitas e ricas discussões. Por isso, aproveitamos os 40 anos do disco Computar World para conversar sobre essa banda. O Kraftwerk Conference é coordenada pelo prof. dr. Messias Bandeira (UFBA).

OS CONVIDADOS (debates):

ANDRÉ T.

Produtor musical, compositor, arranjador, músico e engenheiro de gravação. Produz discos desde 1997 e desde 2002 comanda o Estúdio T – onde compõe, produz e executa formatos para diversos outros produtos audiovisuais para cinema e TV.

ADRIANA PRATES

Além de fã do Kraftwerk, Adriana Prates é DJ de House Music e integrante do Pragatecno, coletivo formado em 1998, que reúne DJs, produtores, designers e promoters aficcionados por música eletrônica do Norte e Nordeste do Brasil.

CAMILO ROCHA/SP

DJ e jornalista, Camilo Rocha atua na área cultural e na cena eletrônica brasileira desde o início da década de 1990. Ele é hoje repórter especial do jornal digital Nexo. Entre os veículos em que já trabalhou ou colaborou estão UOL, Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, O Globo, Time Out, BBC e Rolling Stone. Como DJ, Camilo já se apresentou em clubes e eventos como Green Valley, Warung, Capslock, Selvagem, VoodooHop, Virada Cultural, Rec Beat, Planeta Atlântida, Ceará Music e Universo Paralello. Também esteve presente em eventos e locais históricos para a música eletrônica, como Lov.e Club, A Loca, Circuito, XXXPerience, Skol Beats, entre outros. Integra o conselho consultivo da conferência SIM São Paulo e atuou como consultor do Movimento Fica – Festas Independentes e Cultura Alternativa, em São Paulo.

CLÁUDIA ASSEF

É jornalista de música, trabalhou nos principais jornais, revistas e sites brasileiros, entre eles Folha De S. Paulo, do qual foi correspondente internacional em Paris, e O Estado de S. Paulo, onde manteve uma coluna musical, entre outros. É autora dos livros “Todo DJ Já Sambou”, “Ondas Tropicais” e “O Barulho da Lua”. Esteve envolvida na curadoria de eventos como Sónar São Paulo, Skol Beats, Nokia Trends, Motomix, Virada Cultural, SP na Rua, festival SOMA, Dia da Música Eletrônica de São Paulo 2018 e 2019, Absolut Nights, New Faces on The Block, entre outros. É sócia-fundadora do WME – Women’s Music Event – projeto com foco na mulher na música, incluindo uma conferência e uma premiação anual e está à frente do site Music Non Stop, um dos sites de música e cultura pop mais relevantes do país. Cláudia é desde 2019 coordenadora do Centro Cultura Olido em SP, onde em abril de 2021 inaugurou a Galeria do DJ, primeiro espaço público da América Latina dedicado ao universo da discotecagem. Cláudia também é DJ e produtora musical.

CLÁUDIO MANOEL DUARTE

É fundador e produtor do coletivo Pragatecno, um dos grupos pioneiros de música eletrônica do Brasil, criado em 1998. Tocou em eventos nacionais ao lado de DJs como Xerxes de Oliveira, Luiz Pareto, Marcos Morcerf, dj Dolores, dj Marky, Mauricio UM, Patife, além de vários djs da cena norte e nordeste. Foi o único dj (Angelis Sanctus) do norte e nordeste convocado para o Skol Beats (SP) de 2004, o maior festival de música eletrônica da América Latina, quando abriu o palco principal que incluía nomes como Benzina aka Scandurra, Erick Caramelo, Basement Jaxx, X-Press 2, Dave Clarke e Richie Hawtin. É organizador das coletâneas SomBinário Pragatecno. É produtor de vídeo e professor doutor na UFRB, na área de cultura, linguagens e tecnologias aplicadas.

CRISTIANO FIGUEIRÓ

Professor Adjunto Ino IHAC/UFBA, onde atua na área de concentração em Arte e Tecnologias, no Mestrado Profissional em Artes (ProfArtes) e no PPDGC/UFBA. Doutor em Composição Musical pela UFBA, possui Mestrado em Música pela UFG (2005) na linha Composição e Novas tecnologias e Graduação no Bacharelado em Música – Violão pela UFSM (2003). Tem experiência na área de Artes, com ênfase em Composição Musical, atuando principalmente nos seguintes temas: música computacional e composição eletroacústica, performance musical e Arte Interativa. Tem publicado os resultados de sua pesquisa em diversos eventos nacionais de pesquisa em música. Participou na gravação do Cd “In itinere” com o grupo da música eletroacústica da UFG, no Cd “Compositores da BAHIA”. Em 2008 recebeu o 1º Prêmio no Concurso Nacional de Composição ?Ernst Widmer? com a peça ?Canela-Gamboa? para violão solo. Participou do Pontão de Cultura Juntadados atuando em projetos de Cultura Digital. Ganhou o Prêmio Interações Estéticas 2010 com o Projeto ” Samba e raiz Africana no Rio Grande do Sul “. Coordenou em 2014 o projeto “Música Móvel” desenvolvendo aplicativos para criação sonora com software livre. Em 2018 coordenou o projeto “I Encontro de Selos de Música Experimental” que teve como resultado a publicação do livro “Desobediência Sonora” (Edufba) e do software “Esmeril”. Desenvolveu pesquisa de pós-doutorado (2019) junto ao NuSom na ECA/USP. 

MARKY

O Dj Marky é hoje o dj brasileiro mais famoso no mundo. Sua trajetória vem de vários anos de trabalho artístico, com intensa pesquisa musical e de seu amor principalmente pelo gênero Drum and Bass. Sua fama foi se construindo desde os anos 90 quando foi DJ residente da Toco Dance Club (Vila Matilde, zona leste de São Paulo). Daí foi ganhando o mundo com seu talento e tonando-se residente nas noites londrinas de Jungle e Drum and Bass. O dj conquistou vários prêmios, dentre eles o do Knowledge Magazine Awards como Melhor DJ Internacional, foi o vencedor do BBC XtraBass Awards 2007, como Melhor artista/DJ internacional, venceu também o DJ Awards 2008, Melhor DJ da Nação Dance do ano (Brasil) e vencedor no Rio Music Conference de 2013 e 2014, como Melhor DJ.

MESSIAS BANDEIRA

É Diretor do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Prof. Milton Santos (IHAC/UFBA) e Professor do Programa de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade, com Doutorado em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela Universidade Federal da Bahia. Foi pesquisador visitante da New York University (Department of Media, Culture, and Communication). É músico e produtor cultural, atuando principalmente nos seguintes temas: tecnologias da informação e comunicação, cultura digital e desenvolvimento, acesso aberto, economia da cultura e copyright, administração acadêmica, produção multimídia, música, indústria fonográfica, comunicação e sociedade civil, novas culturas políticas. É organizador do Digitalia – Festival/Congresso Internacional de Música e Cultura Digital e implantou o Observatório Estadual de Economia Criativa-Bahia.

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